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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Monumental Serenata

Hoje começa a semana académica. Hoje é o último jantar de curso sendo caloira. Hoje vou ver a serenata como manda a Praxe. Hoje vou trajar e traçar a capa pela primeira vez e, hopefully, alguém para além dos meus padrinhos irá estar a acompanhar-me nesta noite tão emocionante e cheia de lágrimas.


Lembro-me de quando fui comprar o traje e quando o experimentei ter pensado que tinha finalmente chegado a hora de o comprar mas não estava na hora de trajar (para mim trajar é algo muito maior do que simplesmente vestir o traje). Lembro-me de o vestir - quando o experimentei e, depois, quatro ou cinco vezes em casa a confirmar que estava tudo bem - como se fosse um ritual: primeiro as meias, depois a camisa, agora a saia e a gravata, o casaco e, por fim a capa e, agora, vou vesti-lo pela primeira vez com o intuito de aparecer em público com ele. Oh, a emoção. Deve ser isto que as noivas sentem quando saem de casa no dia do casamento.
A praxe foi boa. Pessoalmente fiquei com a mesma opinião que tinha: vale sempre a pena experimentar e ver o ambiente, mas no fim é das melhores coisas que a universidade nos dá acesso. Claro que faltei a praxes, a maioria das vezes com uma desculpa válida e verdadeira outras vezes porque pura e simplesmente não me apetecia ir. E agora que a praxe acabou, sei que podia ter ido mais vezes, ter ficado mais rouca a cantar pelo meu maior orgulho, que podia ter aproveitado mais. Só agora percebo porque a praxe é uma coisa séria para ser levada na brincadeira, porque é isso que se pretende. A praxe - vulgo atividades de gozo ao caloiro - não é a parada no quartel em que se tem que fazer as coisas porque o general manda, a praxe é saber que as ações são minhas e as consequências são dela, mas sempre com o respeito e dignidade que lhe é exigida. Não se procura que alguém seja humilhado mas também não se quer lá alguém que seja o coninhas que diz não a tudo. É muito mais fácil aguentar com ela se se estiver num espírito descontraído  mesmo que isso implique encher (até porque fazer flexões é o menor dos meus problemas em praxe). Mas, por outro lado, se alguém não quer lá estar que oficialize e saia.
Arranjei um padrinho que no dia do batismo disse "agora somos família e vocês são irmãos. Tratem-se como tal", mal sabia eu que era isso mesmo que íamos fazer: tratar-nos como irmãos e dando novidades ao padrinho. O meu irmão é mesmo irmão na verdadeira acepção da palavra, e o padrinho é como um pai mais distante com quem se fala quando é realmente necessário, não que isso seja uma coisa má: é mesmo boa. Sabemos que mais cedo ou mais tarde o padrinho se vai embora e segue com a sua vida por isso nada melhor do que fazer com que os afilhados sejam bons um para o outro e acho que conseguiu.
O traje foi comprado e há 4 meses pendurado na última cruzeta do armário para não olhar muitas vezes para ele: assim não me lembro de quanto tempo falta para o vestir e sair à rua com ele, os sapatos foram usados e estão prontos a ser calçados sem me magoarem e hoje vou finalmente trajar. Espero que chova porque assim não se notam as lágrimas de felicidade ao saber que ao fim de 8 anos a vida compôs-se e vivo o sonho.

2 comentários:

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